Na Barra do Mar
Sentei-me na barra do porto,
Tamanha beleza a contemplar,
Ouvindo o som do mar
Que música a meu ouvido vinha soar.
E na barra do porto sentada eu via
Tantos barcos ao dia entrar,
Regressavam com suas artes
duma noite de lida no mar.
Sentindo tamanha alegria
Por todos ver voltar,
Dava um pulo, corria ao cais encantada
Ver o peixe tirar.
Sobre rostos morenos do sol,
Ar cansado mas satisfeito
Viam-se saltar dos barcos,
Aqueles homens...aqueles amigos,
Pescadores a preceito.
Viam-se também as mulheres,
Envergando chinela e avental,
Trazendo no rosto espelhado
O alívio de nada ter corrido mal.
E gritava eu a todos:
Olá tio Pedro, tio Zé, tia Raquel, tia Quinhas,
Como estão todos? Correu bem?
Como vai vossa vidinha?
E diziam eles satisfeitos:
Olha, olha a nossa menina,
que tanto gosta do mar,
Que faz dos salpicos da água
Palavras para nos alegrar!
E também elas diziam encantadas:
Vem connosco minha querida,
Vamos atar as redes no armazém
Vem cantar-nos tuas doces palavras
que a nós só nos faz bem.
Que orgulho nesta ribeira,
Que tanto me ensinou,
Entre modéstia e humildade,
Valores que muito apreço dou.
E na fina areia da praia,
Aonde o mar a terra vem beijar
Vidas de mar estas escrevo,
Para nunca mais da memória as tirar.
Feliz sou por aqui criada ter sido,
Entre a faina e muito amor,
Saudades de sentir naquele cais
Vidas de muito calor!
Admiração da minha parte
Por estas vidas de mar,
Que cedo partiam para a faina,
Sem nunca saber haver regressar.
São estas palavras singelas,
Que dentro dum frasco guardei,
Que em silêncio dedico
A todas estas vidas,
Desde o pobre até ao rico.
Autoria de: Ângela Cerqueira
(Poesia patente na exposição "Memórias da Pesca Artesanal"que decorreu nos meses de Abril e Maio)
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